“É assim então o teu segredo. Teu segredo é tão parecido contigo que nada me
revela além do que já sei. E sei tão pouco como se o teu enigma fosse eu.
Assim como tu és o meu.” Clarice Lispector
És um mistério para mim, da mesma forma em que sou um mistério a mim mesma, e,
no entanto, tenho tanta vontade de te observar. Não observar para entender e nem
tão pouco para descrever, já tive isso, mas vi o quanto era impossível, então minha
necessidade é de observar calada, aos poucos e sozinha.
Quando a gente vê uma grande paisagem acompanhada, corremos o risco das
observações de quem nos acompanha atrapalhar a nossa própria visão, no nosso
próprio modo de vê-la. Assim é com você, cada vez que procuro compartilhar
das minhas visões sobre ti com outros é como se eles me falassem de um outro
ser, alguém que talvez você também o seja, mas que não é como eu te observo,
ou como gosto de observar.
Então no pleno escuro da noite, ou em meio a luz do sol que bate secreta pela
cortina, ambos no silencio do meu quarto, eu procuro sozinha você, te
encontro em meus pensamentos, em alguma imagem, ou ainda em qualquer
escrito meu sobre ti, e ali te encontro, prestes a ser observado....
E ali, sentada em meio a meus pensamentos, sozinha, sem interferência, e com
uma sensibilidade que me foge dos olhos e me faz sorrir o coração, eu penso
que talvez te ame da forma mais inocente que alguém pode amar, porque
o amor também pode ser sentido no solitário, no intimo e no secreto.
Logo eu que já estava convencida que para amar se precisa de dois, me vejo
amando completamente sozinha.
“Por enquanto estou inventando a sua presença...” Clarice Lispector